Por Rômulo Marques (Graduando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Piauí), Rafael Alencar (Graduando em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Piauí) e Grete Pflueger (Professora Doutora Adjunta do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão)
O Memorial Maria Aragão é um projeto de uma praça pública, de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, datado de 1998, localizado em São Luís, capital do Maranhão. O espaço foi construído para homenagear uma personagem de relevância para história do estado, a ativista política Maria José Aragão. Situa-se no centro da capital ludovicense, às margens do rio Anil, em uma área conhecida como Beira Mar, cujo entorno é constituído pela Praça Gonçalves Dias e o conjunto arquitetônico e paisagístico do da igreja e Largo de Nossa Senhora dos Remédios, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1955. Esta área, pela sua relevância, compreende vários níveis de tombamento federal, estadual e municipal.
O conjunto é composto por três edifícios: memorial, anfiteatro e um prédio de apoio, dispostos em torno de uma praça seca, de aproximadamente 7830 m², que se apresenta como uma plataforma urbana, em um nível inferior ao da Praça Gonçalves Dias. A implantação, amplamente discutida com o IPHAN, ocorreu de modo a não comprometer a percepção visual dos bens tombados, assim como a skyline da avenida Beira Mar, composta por casarios coloniais e ecléticos, existentes na outra margem do rio Anil.
O memorial, cuja forma assemelha-se a uma pomba, abriga uma área de exposição, auditório, loja, café, além da administração. Possui solução em planta marcada por linhas sinuosas, sem adoção de modulação. A entrada é protegida por uma marquise que se estende cerca de 18 m, estruturada por dois pilares de seção circular, cuja finalização dá-se em um elemento escultórico.
O anfiteatro é composto por um palco de forma trapezoidal, elevado 1,80 m do nível do solo e coberto por uma concha acústica em concreto armado de 7 m de altura, além de camarins e sanitários, localizados no subsolo, cujo acesso dá-se através de uma escada de concreto. A planta caracteriza-se pela sua ortogonalidade, contraposta à sinuosidade da cobertura.
O edifício de apoio, que abriga os bares e sanitários, surge em contraposição às linhas curvas empregadas na composição dos demais volumes do conjunto. Possui planta baixa constituída por dois retângulos: o menor, abriga cozinha, bar e baterias sanitárias, ao passo que o maior, foi destinado ao uso enquanto estar público, uma área livre coberta de aproximadamente 220 m², cujo vão foi vencido por dois pilares de seção circular de 0,40m em associação a laje em concreto armado da cobertura.
O conjunto integra hoje o patrimônio cultural maranhense. É um espaço simbólico e significativo da cidade, palco de manifestações e eventos. Esse projeto moderno e contemporâneo, marcado pelas formas brancas em concreto da obra de Niemeyer está inserido em área simbólica do centro histórico de São Luís e representa um diálogo da contemporaneidade com a cidade colonial, no contraponto entre o concreto e as formas curvas com as cores dos azulejos dos sobrados, transformando o skyline da cidade colonial, pontuado pelas torres da igrejas e telhados de barro com as ousadas formas do concreto armado.